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O Mar de Monstros - CAP. 20

.. domingo, 17 de março de 2013

Capítulo 20 - A magia do Velocino é boa até demais

Aquela tarde foi uma das mais felizes que eu já passara no acampamento, o que talvez sirva para demonstrar que a gente nunca sabe quando nosso mundo está prestes a ser despedaçado. Grover anunciou que poderia passar o resto do verão conosco antes de retomar sua missão à procura de Pan. Seus superiores no Conselho dos Anciãos de Casco Fendido ficaram tão impressionados por ele não ter se deixado matar e ter aberto o caminho para futuros buscadores que lhe concederam uma licença de dois meses e um novo conjunto de flautas de bambu. A única má notícia: Grover insistiu em tocar aquelas flautas a tarde inteira, e seus dons musicais não haviam melhorado muito. Ele tocou YMCA, e os morangueiros começaram a enlouquecer, enroscando-se em nossos pés como se estivessem tentando nos estrangular. Acho que não poderia culpá-los. Grover me contou que poderia desfazer a conexão empática entre nós, agora que estávamos frente a frente, mas eu lhe disse que simplesmente aceitava continuar com ela, se estivesse tudo bem com ele. Ele pôs de lado suas flautas de junco e me olhou.

– Mas, se eu me meter em encrenca de novo, você estará em perigo, Percy! Você pode morrer!
– Se você se meter em encrenca de novo, eu quero saber a respeito. E vou ajudá-lo de novo, homem-bode. Não faria de outro jeito.
No fim ele concordou em não romper a conexão. Voltou a tocar YMCA para os morangueiros. Eu não precisava de uma conexão empática com as plantas para saber como elas se sentiam com aquilo.


Mais tarde, durante a aula de arco-e-flecha, Quíron me chamou de lado e contou que havia resolvido meus problemas com o colégio Meriwether. O colégio não me culpava mais por destruir o ginásio. A polícia não estava mais me procurando.
– Como conseguiu isso? – perguntei.
Os olhos de Quíron cintilaram.
– Apenas sugeri que os mortais tinham visto algo diferente naquele dia... a explosão de um forno, que não foi sua culpa.
– Você disse isso e eles aceitaram?
– Eu manipulei a Névoa. Algum dia, quando você estiver pronto, vou lhe mostrar como isso é feito.
– Você quer dizer que eu posso voltar para Meriwether no ano que vem?
Quíron ergueu as sobrancelhas.
– Ah, não, eles expulsaram você assim mesmo. O diretor, senhor Bonsai, disse que seu... como foi mesmo que ele disse? Que seu carma não era bom, que perturbava a aura educacional da escola. Mas você não está com nenhum problema com a lei, o que foi um alívio para sua mãe. Ah!, e por falar na sua mãe... – Ele desprendeu seu telefone celular da aljava e o entregou a mim. – Está mais do que na hora de você ligar para ela.
A pior parte foi o começo – a parte do "Percy Jackson, o que você está pensando, você tem ideia de como eu fiquei preocupada por você ter fugido do acampamento, partindo para missões perigosas e me deixando morrendo de pavor?". Mas, finalmente, ela fez uma pausa para tomar fôlego.
– Ah, eu só estou contente por você estar em segurança!
Isso é o mais legal em minha mãe. Ela não é muito boa em ficar zangada. Ela tenta, mas simplesmente não é da natureza dela.
– Desculpe, mamãe – disse a ela. – Não vou assustá-la de novo.
– Não me prometa isso, Percy. Você sabe muito bem que tudo só vai piorar.
Ela tentou parecer despreocupada quanto a isso, mas pude perceber que estava bastante abalada. Eu quis dizer alguma coisa para fazê-la se sentir melhor, mas sabia que ela estava certa. Sendo um meio-sangue, eu estaria sempre fazendo coisas que a assustavam. E, à medida que fosse ficando mais velho, os perigos simplesmente ficariam maiores.
– Eu poderia ir para casa por algum tempo – sugeri.
– Não, não. Fique no acampamento. Treine. Faça o que tem de fazer. Mas você virá para casa para o próximo ano escolar?
– Sim, é claro. Ahn, se houver alguma escola que vá me aceitar.
– Ah, nós encontraremos alguma coisa, querido – suspirou minha mãe. – Algum lugar onde ainda não nos conheçam.


Quanto a Tyson, os campistas o trataram como herói. Eu teria ficado feliz em tê-lo como companheiro de chalé para sempre, mas naquela noite, quando estávamos sentados em uma duna de areia com vista para o estreito de Long Island, ele fez um comunicado que me pegou totalmente de surpresa.
– Papai se comunicou comigo em sonho na noite passada – disse ele. – Ele quer que eu o visite.
Perguntei-me se ele estava brincando, mas Tyson não sabia como brincar.
– Poseidon mandou uma mensagem em sonho para você?
Tyson assentiu.
– Quer que eu vá para baixo d'água pelo resto do verão. Aprender a trabalhar nas forjas dos ciclopes. Ele chamou isso de es... es...
– Estágio?
– Sim.
Deixei aquilo cair na minha mente. Admito que senti um pouco de ciúme. Poseidon nunca me convidara para baixo d'água. Mas então, pensei, Tyson estava indo? Simples assim?
– Quando você parte? – perguntei.
– Agora.
– Agora. Tipo... agora, agora?
– Agora.
Olhei para as ondas no estreito de Long Island. A água brilhava em vermelho ao pôr do sol.
– Estou feliz por você, grandão – consegui dizer. – Sério mesmo.
– Difícil deixar meu novo irmão – disse ele com um tremor na voz. – Mas eu quero fazer coisas. Armas para o acampamento. Vocês vão precisar delas.
Infelizmente, eu sabia que ele tinha razão. O Velocino não tinha resolvido todos os problemas do acampamento. Luke ainda estava lá fora, reunindo um exército a bordo do Princesa Andrômeda. Cronos ainda estava se reconstituindo em seu caixão de ouro. No fim, acabaríamos tendo de enfrentá-lo.
– Você vai fazer as melhores armas que já existiram – disse a Tyson.
Ergui meu relógio com orgulho.
– Aposto que elas também vão mostrar a hora certa.
Tyson deu uma fungada.
– Irmãos ajudam um ao outro.
– Você é meu irmão – disse eu. – Não há dúvidas a respeito disso.
Ele me deu uma palmadinha nas costas tão forte que quase me derrubou na duna de areia. Então enxugou uma lágrima da bochecha e se levantou para partir.
– Use bem o escudo.
– Farei isso, grandão.
– Vai salvar sua vida algum dia.
O modo como ele disse isso, tão prático, me fez pensar se aquele seu olho de ciclope podia enxergar o futuro. Ele desceu para a praia e assobiou. Arco-íris, o cavalo-marinho, saltou das ondas. Observei os dois partindo juntos para os domínios de Poseidon. Depois que eles se foram, baixei os olhos para meu novo relógio. Apertei o botão e o escudo se expandiu em espiral até seu tamanho pleno.
Marteladas no bronze, havia figuras em estilo grego antigo, cenas das nossas aventuras naquele verão. Lá estávamos Annabeth exterminando um lestrigão jogador de queimada, eu lutando contra os touros de bronze na Colina Meio-Sangue Tyson cavalgando Arco-íris rumo ao Princesa Andrômeda, o Birmingham disparando seus canhões contra Caríbdis. Passei a mão sobre uma figura de Tyson, lutando com a Hidra enquanto segurava alto uma caixa de donuts Monstro. Não pude deixar de sentir tristeza. Sabia que Tyson se divertiria um bocado embaixo do oceano. Mas eu sentiria saudades de tudo em relação a ele – seu fascínio por cavalos, o modo como conseguia consertar carruagens de guerra ou amarrotar metal com as mãos nuas, ou dar nós em caras malvados. Sentiria saudades até dos seus roncos de terremoto na cama ao lado a noite inteira.
– Ei, Percy. Virei-me.
Annabeth e Grover estavam em pé no topo da duna. Acho que talvez eu tivesse um pouco de areia nos olhos, porque estava piscando muito.
– Tyson... – falei.
– Ele teve de...
– Nós sabemos – disse Annabeth suavemente. – Quíron nos contou.
– Forjas dos ciclopes. – Grover estremeceu. – Ouvi dizer que a comida da cantina de lá é horrível! Tipo, enchilada, nem pensar!
Annabeth estendeu a mão.
– Venha, Cabeça de Alga. Hora do jantar.
Caminhamos de volta para o pavilhão do refeitório juntos, só nós três, como nos velhos tempos.


Houve uma tempestade naquela noite, mas ela se dividiu em volta do Acampamento Meio-Sangue como as tempestades costumam fazer. Raios relampejavam no horizonte, ondas golpeavam a praia, mas nem uma gota caía no nosso vale. Estávamos protegidos de novo, graças ao Velocino, encerrados em nossas fronteiras mágicas. Ainda assim, meus sonhos foram agitados. Ouvi Cronos me provocando, das profundezas do Tártaro: Polifemo está sentado cego em sua caverna, jovem herói, acreditando que obteve uma grande vitória. Será que você está menos iludido?
O riso frio do titã encheu as trevas. Então meu sonho mudou. Eu estava seguindo Tyson para o fundo do mar, entrando na corte de Poseidon. Era um salão radiante, cheio de luz azul, o piso pavimentado com pérolas. E lá, em um trono de coral, sentava-se meu pai, vestido como um simples pescador, de short caqui e uma camiseta alvejada de sol. Ergui os olhos para seu rosto curtido pelas intempéries, seus olhos verdes profundos, e ele disse apenas: Prepare-se. Acordei assustado. Alguém batia com força na porta.
Grover irrompeu sem esperar permissão.
– Percy! – ele gaguejou. – Annabeth... na colina... ela...
O olhar dele me dizia que alguma coisa estava terrivelmente errada. Annabeth estivera de guarda naquela noite, protegendo o Velocino. Se algo tivesse acontecido... Arranquei as cobertas, o sangue como gelo nas minhas veias. Enfiei algumas roupas enquanto Grover tentava formar uma frase completa, mas ele estava atordoado demais, sem fôlego demais.
– Ela está lá caída... simplesmente lá caída...
Corri para fora e disparei pelo pátio central, Grover logo atrás de mim. Rompia a aurora, mas o acampamento inteiro parecia agitado. A notícia estava se espalhando. Algo gigantesco acontecera. Alguns campistas já estavam rumando para a colina, sátiros, ninfas e heróis em uma estranha mistura de armaduras e pijamas. Ouvi o tropel de cascos de cavalo, e Quíron chegou galopando atrás de nós, com uma expressão terrível.
– É verdade? – perguntou a Grover.
Grover só conseguiu balançar a cabeça, a expressão confusa. Tentei perguntar to que estava acontecendo, mas Quíron me agarrou pelo braço e, sem esforço, me ergueu para suas costas. Juntos, subimos a Colina Meio-Sangue, onde uma pequena multidão começara a se reunir. Esperei não encontrar o Velocino no pinheiro, mas ele ainda estava lá, brilhando à primeira luz da madrugada. A tempestade havia se interrompido e o céu estava vermelho-sangue.
– Maldito seja o senhor titã – disse Quíron. – Ele nos enganou outra vez, deu a si mesmo uma nova chance de controlar a profecia.
– O que você quer dizer? – perguntei.
– O Velocino – disse ele. – O Velocino fez seu trabalho bem demais. Galopamos em frente, todo o mundo abrindo caminho para nós. Ali, na base da árvore, uma menina jazia inconsciente. Outra menina, de armadura grega, estava ajoelhada ao lado dela. O sangue retumbava em meus ouvidos. Eu não conseguia pensar direito. Annabeth tinha sido atacada? Mas por que o Velocino ainda estava lá? A própria árvore parecia perfeitamente bem, íntegra e saudável, permeada pela essência do Velocino de Ouro.
– Ele curou a árvore – disse Quíron, com a voz áspera. – E o veneno não foi a única coisa expurgada.
Então percebi que Annabeth não era a menina caída no chão. Era a de armadura, ajoelhada ao lado da menina inconsciente. Quando Annabeth nos viu, correu para Quíron.
– Ela... ela... assim, de repente lá...
Lágrimas corriam de seus olhos, mas eu ainda não entendia. Estava apavorado demais para ver sentido naquilo tudo. Pulei das costas de Quíron e corri na direção da menina inconsciente.
– Percy, espere! – disse Quíron.
Ajoelhei-me ao lado dela. Tinha cabelo preto curto e sardas no nariz. Tinha a constituição de uma corredora de longa distância, flexível e forte, e usava umas roupas que eram algo entre o punk e o gótico – camiseta preta, jeans pretos esfarrapados e uma jaqueta de couro com buttons de uma porção de bandas de que eu nunca ouvira falar. Não era uma campista. Não a reconheci de nenhum dos chalés. E, no entanto, estava com a mais estranha sensação de que já a tinha visto antes...
– É verdade – disse Grover, esbaforido por causa da corrida colina acima. – Não posso acreditar...
Ninguém mais se aproximou da menina. Pus a mão na testa dela. Sua pele estava fria, mas as pontas dos meus dedos formigaram como se estivessem queimando.
– Ela precisa de néctar e ambrosia – disse eu. Era claramente uma meio-sangue, fosse ou não uma campista. Pude sentir isso só de tocá-la. Não entendia por que todos pareciam tão apavorados. Peguei-a pelos ombros e a coloquei sentada, com a cabeça apoiada em meu ombro.
– Venham! – gritei para os outros. – O que há de errado com vocês? Vamos levá-la para a Casa Grande.
Ninguém se mexeu, nem mesmo Quíron. Estavam todos atordoados demais. Então a menina tomou fôlego, vacilante. Ela tossiu e abriu os olhos. Suas íris eram surpreendentemente azuis – um azul elétrico. A menina olhou para mim perplexa, tremendo e de olhos arregalados.
– Quem...
– Eu sou Percy – disse eu. – Você está em segurança agora.
– O sonho mais estranho...
– Está tudo bem.
– Morrendo.
– Não – assegurei-lhe. –Você está bem. Qual é seu nome?
Foi quando eu soube. Antes mesmo de ela dizer. Os olhos azuis da menina se fixaram nos meus, e entendi o porquê da missão do Velocino de Ouro. O envenenamento da árvore. Tudo. Cronos fizera aquilo para colocar mais uma peça de xadrez em jogo – mais uma chance de controlar a profecia.
Até Quíron, Annabeth e Grover, que deveriam estar celebrando aquele momento, estavam chocados demais, pensando no que aquilo poderia significar para o futuro. E eu amparava uma pessoa destinada a ser minha melhor amiga ou, possivelmente, minha pior inimiga.
– Eu sou Thalia – disse a menina. – Filha de Zeus.

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