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O Sangue do Olimpo - CAP. IX

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo IX - Leo

LEO NÃO QUERIA SAIR DO casco.
Ele tinha mais três presilhas para fixar, e nenhum dos outros era magro o suficiente para entrar naquele espaço apertado. (Uma das muitas vantagens de ser magrelo.)
Enfiado entre as camadas do casco que protegiam o encanamento e a fiação elétrica, Leo podia ficar sozinho com seus pensamentos. Quando batia a frustração, o que acontecia a cada cinco segundos mais ou menos, ele podia bater nas coisas com seu martelo, e os amigos iam achar que ele estava trabalhando, não tendo um acesso de raiva.
Havia um problema com seu santuário: só cobria até a cintura. Sua bunda e suas pernas ainda podiam ser vistas pelo público em geral, o que tornava difícil ficar escondido.
— Leo! — A voz de Piper veio de algum lugar atrás dele. — Precisamos de você.
A argola de bronze celestial escorregou do alicate de Leo e deslizou para as profundezas do espaço dentro do casco.
Leo soltou um suspiro.
— Fale com as pernas, porque as mãos estão ocupadas!
— Não quero saber. Reunião no refeitório. Estamos quase em Olímpia.
— Tudo bem. Chego lá em um segundo.
— Afinal, o que você está fazendo? Está remexendo aí dentro há dias.
Leo passou a lanterna pelas placas e pistões de bronze celestial que ele havia instalado ao longo dos dias.
— Manutenção de rotina.
Silêncio. Piper era boa demais em saber quando ele estava mentindo.
— Leo...
— Ei, enquanto você está aí fora, me faz um favor? Estou com uma coceira bem embaixo do meu...
— Está bem, eu vou embora!
Leo precisou de mais alguns minutos para ajustar a presilha. Seu trabalho não tinha terminado – nem perto disso – mas estava progredindo.
Claro, ele estabelecera as diretrizes do projeto secreto desde que construíra o Argo II, mas não o tinha revelado a ninguém. Leo mal tinha sido honesto consigo mesmo sobre o que estava fazendo. Nada dura para sempre, seu pai tinha lhe dito uma vez. Nem mesmo as melhores máquinas.
É, tudo bem, talvez isso fosse verdade. Mas Hefesto concluíra: Tudo pode ser reciclado. Leo pretendia testar essa teoria.
Era extremamente arriscado. Se desse errado, ele seria esmagado. E não só emocionalmente. Seria fisicamente esmagado.
Essa ideia o deixou claustrofóbico.
Ele se agitou para sair de dentro do casco e voltou para sua cabine.
Bem... tecnicamente era sua cabine, mas ele não dormia lá. A cama estava coberta de fios, pregos e mecanismos de várias máquinas de bronze desmontadas. Seus três enormes armários de ferramentas com rodinhas – Chico, Harpo e Groucho – ocupavam a maior parte do quarto. Havia dezenas de ferramentas elétricas penduradas nas paredes. A bancada de trabalho estava repleta de fotocópias dos projetos detalhados em Sobre a construção de esferas, o livro perdido de Arquimedes que Leo encontrara em uma oficina no subsolo de Roma.
Mesmo que quisesse dormir em sua cabine, ela era atulhada e perigosa demais. Ele preferia ficar na casa de máquinas, onde o zunido constante o ajudava a dormir. Além disso, desde que passara um tempo na ilha de Ogígia, ele tinha pegado gosto por acampar ao ar livre. Um saco de dormir no chão era tudo de que precisava. Sua cabine servia apenas para guardar coisas... e trabalhar em seus projetos mais complexos.
Ele pegou um chaveiro do cinto de ferramentas. Na verdade, não tinha tempo, mas destrancou a gaveta do meio de Groucho e olhou para os dois objetos preciosos em seu interior: um astrolábio de bronze que pegara em Bolonha e um pedaço de cristal de Ogígia do tamanho de seu punho. Leo ainda não havia descoberto um modo de juntar as duas coisas, e isso o estava deixando louco.
Ele esperava conseguir algumas respostas quando visitassem Ítaca. Afinal de contas, era o lar de Odisseu, o sujeito que construíra aquele astrolábio. Mas, a julgar pelo que Jason dissera, aquelas ruínas não ofereciam nenhuma resposta para ele, só um bando de fantasmas e ghouls mal-humorados.
Enfim, Odisseu nunca conseguira fazer o astrolábio funcionar. Mas ele não tinha um cristal para usar como guia. Leo tinha. Ele teria que triunfar onde o semideus mais inteligente de todos os tempos havia falhado.
Era a típica sorte de Leo. Uma garota imortal supergostosa estava esperando por ele em Ogígia, mas Leo não conseguia descobrir como conectar um pedaço idiota de pedra ao instrumento de navegação de três mil anos. Alguns problemas não podiam ser solucionados com fita adesiva.
Leo fechou e trancou a gaveta.
Seus olhos se dirigiram para um mural acima de sua bancada de trabalho, na qual havia duas folhas fixadas lado a lado. A primeira era o velho desenho a lápis de cera que fizera aos sete anos – um diagrama de um navio voador que ele vira em sonhos. A segunda era um desenho a carvão que Hazel fizera recentemente para ele.
Hazel Levesque... aquela garota era demais. Assim que Leo se reuniu com a tripulação em Malta, ela soube imediatamente que o garoto estava sofrendo por dentro. Na primeira chance que teve, depois de toda a confusão na Casa de Hades, ela foi até a cabine dele e disse:
— Desembucha.
Hazel era uma boa ouvinte. Leo contou toda a história. Na mesma noite, mais tarde, Hazel voltou com seu bloco de desenho e um lápis.
— Descreva como ela é — insistiu ela. — Cada detalhe.
Parecia um pouco estranho, ajudar Hazel a fazer um retrato de Calipso, como se ele estivesse falando com um desenhista da polícia: Sim, policial, essa é a garota que roubou meu coração! Parecia letra de música sertaneja.
Mas descrever Calipso fora fácil. Leo não conseguia fechar os olhos sem vê-la.
Agora a imagem dela o encarava do mural, seus olhos amendoados, o biquinho dos lábios, o cabelo comprido e liso jogado sobre um ombro do vestido sem mangas. Ele quase podia sentir seu aroma de canela. O cenho franzido e o canto da boca virado para baixo pareciam dizer: Leo Valdez, você é um fanfarrão.
Droga, ele amava aquela mulher.
Leo prendera o retrato dela ao lado do desenho do Argo II para se lembrar de que às vezes as visões se realizam. Quando era pequeno, ele sonhava com um navio voador. Com o tempo, acabou por construí-lo. Agora ele ia encontrar um meio de voltar para Calipso.
O zunido dos motores do navio mudou para um tom mais grave. Pelo alto-falante da cabine, a voz de Festus estalou e guinchou.
— É, obrigado, parceiro — disse Leo. — Já estou indo.
O navio estava descendo, o que significava que os projetos de Leo teriam que ficar para depois.
— Espere por mim, querida — disse ele para o retrato de Calipso. — Vou voltar para você, exatamente como prometi.
Leo podia imaginar a resposta dela: Não vou esperar você, Leo Valdez. Eu não estou apaixonada por você. E não acredito nem um pouco em suas promessas tolas!
O pensamento o fez sorrir. Ele guardou as chaves de volta no cinto de ferramentas e foi para o refeitório.

* * *

Os outros seis semideuses tomavam café da manhã.
Algum tempo antes, Leo teria se preocupado por todos eles estarem sob o convés, deixando o timão sem ninguém, mas desde que Piper despertara Festus permanentemente com o charme, um feito que Leo ainda não entendia direito, a figura de proa tornara-se mais do que capaz de controlar o Argo II sozinha. Festus podia navegar, checar o radar, fazer uma vitamina de mirtilo e lançar jatos de fogo branco nos invasores – tudo simultaneamente – sem queimar nem um circuito.
Além disso, eles tinham Buford, a Mesa Maravilhosa, de reserva. Depois que o treinador Hedge partira em sua expedição de viagem nas sombras, Leo havia decidido que aquela mesa de três pernas podia fazer um trabalho tão bom quanto o “acompanhante adulto” do navio. Ele forrara o tampo de Buford com um pergaminho que projetava uma simulação holográfica em miniatura do treinador Hedge. O mini-Hedge andava de um lado para outro no tampo, gritando aleatoriamente coisas como: “CALE ESSA BOCA!”, “VOU MATAR VOCÊ” e o sempre popular “VISTA ALGUMA COISA!”.
Naquele momento, Buford estava ao timão. Se as chamas de Festus não espantassem os monstros, o Hedge holográfico de Buford dava conta disso.
Leo parou à porta do refeitório, examinando a cena que se desenrolava na mesa. Não era sempre que ele conseguia ver todos os seus amigos juntos.
Percy estava comendo uma pilha enorme de panquecas azuis (qual o problema dele com comidas azuis?), enquanto Annabeth o repreendia por botar calda demais.
— Você vai afogá-las! — reclamou ela.
— Ei, eu sou filho de Poseidon — retrucou ele. — Não posso me afogar, nem minhas panquecas.
À esquerda deles, Frank e Hazel usavam suas tigelas de cereal para manter aberto um mapa da Grécia, que os dois observavam com as cabeças juntas. De vez em quando a mão de Frank cobria a dela de forma tão natural e carinhosa que eles pareciam ser casados fazia muito tempo, e Hazel nem corava, o que era um progresso para uma garota dos anos quarenta. Até recentemente, se alguém dissesse merda perto dela, ela quase desmaiava.
Jason estava sentado à cabeceira da mesa com a camiseta enrolada até a altura do peito e parecia bem desconfortável enquanto a Enfermeira Piper trocava seus curativos.
— Fique parado — disse ela. — Eu sei que dói.
— É só frio.
Leo ouvia a dor na voz dele. Jason tinha sido atravessado de um lado a outro por aquela lâmina estúpida de ouro imperial. O ferimento de entrada nas suas costas estava com uma tonalidade feia de roxo e soltava fumaça. Isso provavelmente não era bom sinal.
Piper se esforçava para manter o otimismo, mas em particular tinha dito a Leo quanto estava preocupada. Não havia mais nada que ambrosia, néctar e medicina mortal pudessem fazer. Um corte profundo de bronze celestial ou ouro imperial podia literalmente dissolver a essência de um semideus de dentro para fora. Era possível que Jason melhorasse. Ele dizia estar se sentindo melhor. Mas Piper não tinha tanta certeza.
Infelizmente seu melhor amigo não era um autômato de metal. Aí, pelo menos ele teria alguma ideia de como ajudá-lo. Mas com humanos... Leo se sentia impotente. Eles quebravam com muita facilidade.
Ele amava os amigos. Faria qualquer coisa por eles. Mas ao olhar para aqueles seis, três casais, cada um concentrado no próprio mundinho, ele pensou sobre o alerta de Nêmesis, a deusa da vingança: Você não encontrará um lugar entre seus irmãos. Você sempre será a sétima roda.
Ele estava começando a achar que Nêmesis estava certa. Supondo que Leo vivesse tempo suficiente, supondo que seu plano secreto maluco funcionasse, o destino dele era com outra pessoa, em uma ilha que nenhum homem jamais havia encontrado duas vezes.
Mas, por enquanto, o melhor que ele podia fazer era seguir sua velha regra: Não pare nunca. Não fique empacado. Não pense nas coisas ruins. Sorria e faça piadas mesmo sem ter vontade. Principalmente quando não tiver vontade.
— E aí, gente? — Ele entrou no refeitório. — Ah, que bom, brownies!
Ele pegou o último, feito com uma receita especial com sal marinho que eles pegaram com Afros, o peixe-centauro, nas profundezas do Atlântico.
Os alto-falantes emitiram um chiado. Então o mini-Hedge de Buford gritou:
— VISTA ALGUMA COISA!
Todo mundo pulou de susto. Hazel foi parar a um metro e meio de Frank. Percy derramou calda em seu suco de laranja. Jason se contorceu todo para vestir a camiseta e Frank virou um buldogue.
— Achei que você fosse se livrar desse holograma idiota — disse Piper.
— Ei, Buford só está dando bom-dia. Ele adora seu holograma! Além disso, todos nós sentimos saudades do treinador. E Frank virou um buldogue fofo.
Frank se transformou de volta em um sino-canadense forte e mal-humorado.
— Leo, sente-se. Temos uns assuntos para discutir.
Leo se espremeu entre Jason e Hazel. Achou que aqueles dois seriam menos propensos a lhe dar um tapa se ele fizesse piadas ruins. Deu uma mordida no brownie e apanhou um pacote de salgadinhos italianos – Fonzies – para completar seu café da manhã balanceado. Ele tinha ficado viciado naquele troço desde a primeira vez que provara alguns, na Bolonha. Eram sabor queijo e vagabundos, duas de suas qualidades favoritas.
— Então... — Jason fez uma careta ao se debruçar para a frente. — Vamos permanecer no ar e descer o mais perto possível de Olímpia. É mais para o interior do que eu gostaria, cerca de dez quilômetros, mas não temos escolha. Segundo Juno, temos que encontrar a deusa da vitória e, hum... detê-la.
Fez-se um silêncio desconfortável em torno da mesa.
Com cortinas cobrindo as paredes holográficas, o refeitório estava mais escuro e sombrio do que deveria, mas eles não podiam fazer nada. Desde que os anões gêmeos cêrcopes deram curto-circuito nas paredes, as imagens em tempo real do Acampamento Meio-Sangue costumavam sair do ar e mudar para fotos de closes muito próximos dos anões: suíças ruivas, narinas e dentes maltratados. Não era muito agradável quando se estava tentando comer ou ter uma conversa séria sobre o destino do mundo.
Percy bebeu seu suco de laranja adoçado com calda. Ele pareceu gostar.
— Não tenho problemas em combater uma deusa de vez em quando, mas Nice não é uma das deusas legais? Quer dizer, eu, pessoalmente, gosto da vitória. Para mim ela nunca é demais.
Annabeth tamborilou os dedos na mesa.
— Isso é estranho. Eu entendo por que Nice está em Olímpia, berço dos Jogos Olímpicos e tudo o mais. Os competidores faziam sacrifícios para ela. Gregos e romanos a cultuaram ali por uns mil e duzentos anos, não é?
— Quase até o fim do Império Romano — concordou Frank. — Os romanos a chamavam de Vitória, mas era a mesma coisa. Todo mundo a amava. Quem não gosta de ganhar? Não entendi por que devemos detê-la.
Jason franziu a testa. Um pouco de fumaça saiu da ferida sob sua camiseta.
— O ghoul Antínoo disse que “a Vitória está fora de controle em Olímpia”. Juno nos alertou que nunca conseguiríamos acabar com a rivalidade entre gregos e romanos a menos que derrotássemos a vitória.
— Como se derrota a vitória? — questionou Piper. — Parece um desses enigmas insolúveis.
— Como fazer pedras voarem — disse Leo. — Ou comer só um salgadinho.
Ele jogou um punhado na boca.
Hazel torceu o nariz.
— Esse negócio ainda vai matar você.
— Você acha? Estas coisas têm tantos conservantes que eu vou viver para sempre. Mas, ei, sobre essa deusa da vitória ser poderosa e popular... Vocês não se lembram de como são os filhos dela no Acampamento Meio-Sangue?
Hazel e Frank nunca tinham ido ao Acampamento Meio-Sangue, mas os outros assentiram com pesar.
— É verdade — disse Percy. — Os semideuses do chalé 17... Eles são supercompetitivos. Nos jogos de capturar a bandeira, são quase piores do que os filhos de Ares. Quer dizer, com todo o respeito, Frank.
Frank deu de ombros.
— Você está dizendo que Nice tem um lado sombrio?
— Os filhos dela com certeza têm — disse Annabeth. — Nunca recusam um desafio. Têm que ser os primeiros em tudo. Se a mãe for tão intensa quanto eles...
— Opa. — Piper espalmou as mãos na mesa como se o navio estivesse balançando. — Gente, todos os deuses estão divididos entre seus aspectos grego e romano, certo? Se Nice é assim, e ela é a deusa da vitória...
— Deve estar em grande conflito — concordou Annabeth. — Ela provavelmente quer que um de seus aspectos vença para que ela possa declarar um campeão. Deve estar literalmente lutando contra si mesma.
Hazel empurrou sua tigela de cereal por cima do mapa da Grécia.
— Mas nós não queremos que nenhum dos lados vença. Precisamos que gregos e romanos fiquem do mesmo lado.
— Talvez esse seja o problema — disse Jason. — Se a deusa da vitória está fora de controle, dividida entre gregos e romanos, ela pode tornar impossível a união dos dois acampamentos.
— Como? — perguntou Leo. — Começando uma discussão no Twitter?
Percy espetou o garfo em uma panqueca.
— Talvez ela seja como Ares. Aquele cara consegue provocar uma briga só de entrar em uma sala cheia de gente. Se Nice irradia vibrações competitivas ou algo assim, ela poderia agravar seriamente a rivalidade entre gregos e romanos.
Frank olhou para Percy.
— Lembra-se daquele velho deus do mar em Atlanta, Fórcis? Ele disse que os planos de Gaia têm várias camadas. Isso pode ser parte da estratégia dos gigantes: manter os dois acampamentos divididos, manter os deuses divididos. Se esse for o caso, não podemos deixar que Nice nos jogue uns contra os outros. Deveríamos mandar uma equipe de quatro a Olímpia, dois gregos e dois romanos. O equilíbrio pode ajudar a manter também a ela equilibrada.
Enquanto ouvia Zhang, Leo não pôde deixar de se espantar. Não conseguia acreditar no quanto o cara tinha mudado em poucas semanas. Frank não estava apenas mais alto e musculoso. Também parecia mais confiante, mais disposto a assumir o comando. Talvez fosse porque o graveto que controlava sua vida estava guardado em segurança em uma bolsa à prova de fogo, ou talvez porque tinha comandado uma legião de zumbis e sido promovido a pretor. Qualquer que fosse o motivo, Leo tinha dificuldade em vê-lo como o mesmo cara estabanado que uma vez escapara de algemas chinesas se transformando em uma iguana.
— Acho que Frank tem razão — disse Annabeth. — Uma equipe de quatro. Vamos ter que escolher com cuidado quem vai. Não queremos deixar a deusa... hum... ainda mais instável.
— Eu vou — disse Piper. — Posso tentar usar o charme.
Rugas de preocupação ficaram mais proeminentes em volta dos olhos de Annabeth.
— Dessa vez não, Piper. Nice só pensa em competição. E Afrodite... bem, ela também, a seu modo. Acho que Nice pode ver você como uma ameaça.
Se fosse antes, Leo talvez fizesse uma piada com isso. Piper, uma ameaça? A garota era como uma irmã, mas, se precisasse de ajuda para bater em uma gangue de bandidos ou subjugar uma deusa da vitória, não seria a primeira pessoa a quem ele pediria ajuda.
Ultimamente, porém... bem, Piper podia não ter mudado de modo tão óbvio quanto Frank, mas tinha mudado. Ela apunhalara Quione, a deusa da neve, no peito. Derrotara os boréadas. Derrotara um bando de harpias selvagens sozinha. E, em relação ao charme, tinha ficado tão poderosa que deixava Leo nervoso. Se Piper o mandasse comer suas verduras, era capaz de ele obedecer.
As palavras de Annabeth não pareceram abalá-la. Piper apenas assentiu e olhou em volta.
— Então quem deveria ir?
— Jason e Percy não devem ir juntos — disse Annabeth. — Júpiter e Poseidon, combinação ruim. Nice poderia facilmente fazê-los começar a brigar.
Percy deu um meio sorriso.
— É, não podemos ter outro incidente como o do Kansas. Eu poderia matar meu parceiro Jason.
— Ou eu poderia matar meu parceiro Percy — comentou Jason amistosamente.
— O que apenas confirma o que eu falei — disse Annabeth. — Eu e Frank também não podemos ir juntos. Marte e Atena... seria ruim do mesmo jeito.
— Está bem — interveio Leo. — Então Percy e eu pelos gregos. Frank e Hazel pelos romanos. Essa é ou não é a equipe menos competitiva de todas?
Annabeth e Frank trocaram olhares dignos de deuses da guerra.
— Pode funcionar — concluiu Frank. — Quer dizer, nenhuma combinação vai ser perfeita, mas Poseidon, Hefesto, Plutão e Marte... Não vejo nenhuma grande rivalidade aí.
Hazel traçou uma linha com o dedo pelo mapa da Grécia.
— Ainda preferia que tivéssemos ido pelo Golfo de Corinto. Queria visitar Delfos, talvez receber algum conselho. Além disso, o caminho em torno do Peloponeso é muito longo.
— É — Leo ficou deprimido quando viu a distância que ainda teriam que percorrer. — Já é dia vinte e dois de julho. A partir de hoje, temos só dez dias até...
— Eu sei — disse Jason. — Mas Juno foi clara. O caminho mais curto teria sido suicídio.
— E em relação a Delfos... — Piper debruçou-se sobre o mapa. A pena azul de harpia em seu cabelo balançou como um pêndulo. — O que está acontecendo por lá? Se Apolo não tem mais seu oráculo...
Percy resmungou:
— Provavelmente tem algo a ver com aquele cretino do Octavian. Talvez ele seja tão ruim em prever o futuro que anulou os poderes de Apolo.
Jason conseguiu dar um sorriso, apesar de seus olhos estarem nublados de dor.
— Com sorte vamos achar Apolo e Ártemis. Aí você mesmo pode perguntar a ele. Juno disse que talvez os gêmeos estejam dispostos a nos ajudar.
— Muitas perguntas sem resposta — murmurou Frank. — E muitos quilômetros a navegar até Atenas.
— Vamos começar pelo começo — disse Annabeth. — Vocês têm que encontrar Nice e descobrir como detê-la... Ou seja lá o que Juno quis dizer com isso. Ainda não entendo como se derrota uma deusa que controla a vitória. Parece impossível.
Leo abriu um sorriso. Não conseguiu evitar. Claro, eles só tinham dez dias para impedir que os gigantes despertassem Gaia. Claro, ele podia morrer antes da hora do jantar. Mas ele adorava quando lhe diziam que algo era impossível. Era como se alguém lhe desse uma torta de merengue de limão e lhe dissesse para não jogá-la. Ele simplesmente não conseguia resistir ao desafio.
— Isso a gente vai ver. — Leo ficou de pé. — Vou buscar minha coleção de granadas e encontro vocês no convés!

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